terça-feira, 3 de março de 2009

S.S.

(...) falou que o grande problema da humanidade, hoje, é esse medo da paixão, não do amor, da paixão, daquele arder, doer, estremecer, do frio na barriga, da cegueira, que para ela não havia graça na vida sem paixão, que ela nunca se permitiria ser isso, nunca faria o que tantos falam de pensar com a cabeça, que ela era muito coração, um coração imenso, gigante, que pulsava e gritava paixão, não amor, paixão. Que para ela, era preciso se apaixonar todos os dias, que fosse pelo sol, pelo gosto do café, pela imagem no espelho, pelas pintinhas de alguém, pelos perfumes e se tudo isso que há de belo não fosse suficiente, que se apaixonasse então pelo que há de feio, pela dor, pela raiva, pela angústia. E que no final até o feio, com paixão, belo se torna, que não há nada de errado na dor, pelo contrário, que é por causa dela que nós sabemos que estamos vivos e que corre sangue em nossas veias, que é o aperto no peito e as coisas que não explicamos – ou não queremos nem explicar, ou que nos expliquem – que nos tornam humano. Então, ela concluía, depois de tamanha verborragia, que era preciso um pouco de tudo: do belo, do feio, do bom, do mau, da dor, da alegria. Mas que sem a paixão, ah, não. (...)

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